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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A ETERNA ESPERANÇA. SEBASTIANISMO: UMA LENDA E UMA LIÇÃO



Em nossa batalha diária muitas vezes nos vemos acuados, sem chão, uma única fatalidade põe a perder todo um sonho, um ideal tanto de um indivíduo como de um povo. 



Um fato histórico ocorrido no século XVI serve-nos de exemplo: trata-se da morte de D. Sebastião (rei de Portugal) – o desejado – tendo o menino-rei já nascido com o pesado fardo de liderar um novo período de conquistas gloriosas para seu país e impedir os planos dos espanhóis que tencionavam dominar Portugal. 



Tal expectativa sobre um recém-nascido e mais tarde sobre um jovem rei de apenas vinte e quatro anos se justificava após vitórias épicas de Portugal como a que se denominou “milagre de Ourique” em que teria ocorrido a intervenção divina, possibilitando a vitória dos portugueses mesmo contra tropas significativamente superiores, conforme breve relato:


"A inesperada vitória teria sido explicada pelo aparecimento de Cristo, antes da batalha, ao futuro rei de Portugal, sinalizando a intervenção sagrada no destino de gloria reservado aos portugueses."
( REFERÊNCIA: 1580 - 1600 - O Sonho da Salvação, Hermann,Jacqueline)


Ocorre que talvez influenciado pela grande expectativa em torno de si mesmo o menino-rei obstinou-se em realizar um grande feito, e ignorando os conselhos dos mais velhos aventurou-se na fatídica batalha de Alcácer Quibir, talvez esperando outro milagre divino que não ocorreu, tendo então sucumbido dando fim à esperança de seus súditos. 



Tal episódio fez com que Portugal imergi-se em um colapso político, posto que não tendo D. Sebastião se casado, não deixara nenhum herdeiro, ficando o reinado português nas mãos da Espanha. 



Muitas foram as versões para a morte do “menino-rei”, prevalecendo a de que este desaparecera misteriosamente durante a batalha e seu corpo jamais fora encontrado. 


Foi o suficiente para que grande parte do povo português utilizasse este fator, como motivação e resistência ao dramático período de sua história, mitificando o jovem monarca, e vivendo em função da esperança de que o “menino-rei” retornaria e livraria seu povo do domínio espanhol. 

Como dissemos no início deste texto, basta uma escolha errada, um erro de estratégia, para que caia por terra todo um ideal, todo um sonho de predomínio e continuidade de uma trajetória gloriosa de conquistas de um povo. 

O que está feito está feito, seguir é necessário, assim como é benéfico, buscar uma referência, uma motivação. 

Mas quando focamos prioritariamente na vinda do “libertador”, aquele que irá restabelecer nossa trajetória de sonhos e conquistas, estamos não só desviando nossa mente de uma imprescindível renovação de expectativas, como nos subestimando e desdenhando do nosso poder de renovação absoluta. 

Personagens da História que se tornaram referências o fizeram por seus próprios atos, e se tornaram referências em sua grande maioria porque foram ÚNICOS nos momentos cruciais do seu viver. 

Todos somos referências e todos somos referendados, vez que tudo que nos é apresentado pelo Universo em forma de intuições, idéias e sonhos passa a fazer parte de nós e nós a fazer parte deles. 

Quando aderimos a um sonho, mesmo em se tratando de sonho coletivo assumimos o dever e a responsabilidade de agir naquela direção. 

A expectativa exagerada criada ante a chegada do salvador normalmente gera a inércia, a referência tomada como estímulo nos dá ânimo, mas a ação firmada naquela trajetória e naquele exemplo nos levará adiante. 

O sebastianismo surgiu em uma época arcaica em que prevalecia a lei do mais forte, e aqueles que não dispunham de títulos ou poder buscavam esta sensação de fortaleza por meio da idolatria a quem detinha o poder e na esperança persistente da chegada do herói salvador. 

Prevalece ainda em muitos lugares esta auto subordinação a líderes tidos como infalíveis, abrindo espaço para aproveitadores em todas as áreas. 

Gradativamente no entanto o indivíduo está se descobrindo como principal arquiteto de sua trajetória e elemento fundamental na trajetória de seu povo. 

Quando cada um se conscientizar que não precisa esperar na inércia por coisa alguma, que a esperança é bem vinda mas em um sentimento maior, esperando e agindo para que nossas ações originárias de nossa consciência absoluta ampliem não só nossos horizontes, mas também os horizontes das nações a que pertencemos, o salvador será visto como uma lenda, e as verdadeiras referências da História de onde estiverem irão se rejubilar com o dever cumprido. 

Para encerrar este texto “A Última Nau” (do álbum Mensagnes de Fernando Pessoa) com música de André Luiz Oliveira e interpretação magistral de Zé Ramalho com os votos de uma semana de GRANDES CONQUISTAS PARA TODOS!

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